'A crise climática é agora. O Brasil está queimando': artistas e ativistas debatem tensões ambientais em fórum na Amazônia

  • 16/09/2024
(Foto: Reprodução)
Fórum Arte pela Justiça Climática promove intercâmbio inédito entre convidados de mais de 20 países. Evento, em Belém, promove intercâmbio e dois dias de programação aberta ao público. Artistas de 20 países debatem questões socioambientais no Fórum Arte Pela Justiça em Belém Ao imaginar sua primeira viagem para a Amazônia, a artista africana Yara Costa não poderia supor o que encontraria. Pela janela do avião, ao chegar ao Brasil, não era possível enxergar a floresta. “Fiquei chocada: o Brasil está queimando. Do avião, eu não conseguia ver a terra, nem o céu: tudo era só fumaça”. As queimadas recordes na Amazônia resultaram em 31 milhões de toneladas de gás carbônico (CO2) emitidos na atmosfera, segundo dados inéditos, obtidos com exclusividade pelo Jornal Hoje junto com o Observatório do Clima (OC), rede de entidades ambientalistas da sociedade civil brasileira. 📲 Acesse o canal do g1 Pará no WhatsApp O número considera o período de junho a agosto de 2024 e é equivalente às emissões de todo o Reino Unido em um único mês. Atualmente, o Brasil emite cerca de 2,3 bilhões de toneladas de gases, sendo o sexto maior emissor global. Nascida em Moçambique, Yara, que é artista e ativista climática, desenvolve um trabalho sobre comunidades pesqueiras de tradição oral e como elas estão sendo afetadas pelas mudanças climáticas. “A crise climática está acontecendo agora, está acontecendo no Brasil, está acontecendo na África", declara Yara, que participa, em Belém, do Fórum Arte pela Justiça Climática e analisa as duras urgências que aproximam os dois continentes: as tensões socioambientais. Artistas de mais de 20 países estão reunidos na Amazônia em fórum internacional que debate justiça climática Renata Aguiar Nesta semana, o debate sobre crise climática envolve diferentes idiomas e contrasta realidades de diversos países em um intercâmbio inédito realizado na Amazônia. Até dia 21, artistas e ativistas de mais de 20 países se encontram na capital do Pará para o Fórum, que começou na segunda-feira (16), com imersão em lugares simbólicos para cultura e sociopolítica da região. Aproximar experiências que utilizam a arte como ferramenta política e social diante da crise ambiental que na qual o mundo contemporâneo está imerso é justamente a proposta central do intercâmbio, conforme explica Priscila Cobra, uma das curadoras do evento. “Queremos trazer o protagonismo para formas de resistência e de construção de justiça climática por meio de novas lógicas, formas não hegemônicas, descentralizadas, que buscam maneiras outras de sociedade para além do capitalismo predatório. Iremos promover essa troca com talentos e mentes de artistas e ativistas do mundo todo. E é muito importante que esse encontro ocorra na Amazônia, que é um dos territórios mais afetados pelas tensões ambientais. A ideia é conectar essas territorialidades com a nossa região”, diz Priscila, que é jornalista e carimbozeira afro-indígena de Icoaraci. Artistas da Guatemala, Brasil, Porto Rico, Moçambique, Índia, Palestina, África do Sul, Equador, Colômbia, Egito, Argélia, Portugal, Angola, Malásia, Estados Unidos, São Martinho, Indonésia, China, Gana e Argentina se reunirão em vivências por diversos locais de Belém. A proposta para a etapa inicial do Fórum é introduzir os artistas à cidade, com suas complexidades, territórios e comunidades, desde o centro urbano até os bairros periféricos e as regiões insulares amazônicas. Fórum Arte pela Justiça Climática reúne artistas de diversos países em Belém Renata Aguiar “Neste momento inicial do encontro, pudemos perceber que nós temos problemas muito similares quando a gente pensa em justiça climática e nas próprias questões da arte em comunidade. E a solução pra esses problemas também pode ser construída coletivamente”, diz Renata Aguiar, artista visual, educadora e pesquisadora, que também assina a curadoria do Fórum ao lado de Zayaan Khan, artista da África do Sul que trabalha em defesa da justiça alimentar, da distribuição da terra e do uso de sementes, por meio da contação de histórias e artes multidisciplinares. A primeira parada do intercâmbio foi o Museu Paraense Emílio Goeldi, uma instituição que tem acompanhado o desenvolvimento da cidade ao longo dos séculos e que desempenhou um papel significativo na formação das narrativas e discursos sobre a Amazônia. Após uma caminhada pelo parque do museu, foi realizada a roda de conversa "Amazônia, território sagrado, cultura ancestral", com a participação de Priscila Cobra; Roberta Tavares, poeta, historiadora e quilombola; BorBlue, poeta de slam e músico trans; e Marlúcia Bonifácio Martins, coordenadora de pesquisa e pós-graduação do Museu Goeldi e pesquisadora em Biodiversidade. Artistas conheceram o Museu Goeldi, instituição científica mais antiga da Amazônia Renata Aguiar “A partir desse apanhado de mentes pensantes e corpos amazônicos pudemos falar um pouco sobre esse território a partir da perspectiva de quem vive ele de diversas maneiras. Pudemos trabalhar a desconstrução da ideia estereotipada de que falar de Amazônia é pensar em fauna e flora, apenas, sem pensar nas pessoas que vivem na região. Foi um momento também de entender historicamente a preservação da Amazônia e de entender a respeito da ciência feita aqui no nosso território, a partir de uma perspectiva científica, acadêmica, mas também destacando formas tradicionais de conhecimento desenvolvidos pelos povos originários que estavam nesse território antes da intervenção colonial”, diz Renata Aguiar, curadora do Fórum. No dia 17, o grupo vai até em Icoaraci, para oficina de cerâmica da Família Sant'ana. Lá, o grupo vai observar como diferentes tecnologias, tanto indígenas quanto contemporâneas, têm interagido e continuam a interagir atualmente, além de refletir sobre a comunidade, a preservação e a harmonia com a natureza amazônica. Os artistas farão ainda uma vivência na casa de carimbó mais antiga cidade, o espaço Coisas de Negro, com Mestre Nego Ray, mestre de reconhecida trajetória na cultura do carimbó do Pará. O próximo passo será pegar um barco para Cotijuba, para encontrar com mestres e músicos de carimbó — Mestra Nazaré do Ó, Mestre Jaci, Mestre Thomaz Cruz, Mestre Lourival Igarapé, Mestre Ney Lima pela Paz, Mestre Dimmi Paixão, Yuri Moreno, Lis Ferreira, Anne Almeida, Isaac Santos. No dia 18, ainda em Cotijuba, os artistas participam de uma vivência com Mãe Márcia de Xangô, líder comunitária e sacerdotisa do centro Caboclo Rompe Mato, um templo de Umbanda. Mãe Márcia compartilhará seu trabalho com esta religião afro-brasileira e suas muitas iniciativas na ilha, como o Festival Pyracema, que promove a cultura, com foco principal em saúde pública, culinária afro-amazônica e educação socioambiental. Ao final do dia, o grupo visita o Mercado Ver-o-Peso, para ter um vislumbre das vibrantes trocas culturais, naturais e simbólicas no maior mercado a céu aberto da América Latina. Serviço: Programação aberta do Fórum Arte pela Justiça Climática — Reimaginando Futuros, dias 20 e 21 de setembro, no Curro Velho, localizado na Rua Prof. Nelson Ribeiro, 287 - Telégrafo. As inscrições estão abertas para oficinas até dia 20. Confira a programação aqui.

FONTE: https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2024/09/16/a-crise-climatica-e-agora-o-brasil-esta-queimando-artistas-e-ativistas-debatem-o-aquecimento-global-em-forum-na-amazonia.ghtml


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